quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pluralidade Uníssona

Em tempos de aquecimento global, destruição da biodiversidade, fim da vida nos mares, radical aumento das desigualdades sociais [ufa!] e, consequente, polarização entre ricos e pobres, somos impulsionados, tamanha as contradições, a tentar legitimar a nossa existência.
A busca pela construção, e a angústia dela recorrente, do que Paulo Freire chamava de”sociedade menos malvada” continua a ser a motivação de boa parte das pessoas. Neste cenário, o famigerado progresso surge como vilão, o responsável pelas misérias humanas. O caminho agora... é a sustentabilidade.
A fatalidade motiva a transformação, o dever de cidadãos. Caem em nossos colos o peso do existencialismo de Sartre e neste balaio, figurinhas conhecidas ganham papel de destaque: “ É responsabilidade social pra lá, crescimento do terceiro setor pra cá”; a palavra de ordem é a colaboração.
Só que os mais desavisados ou mentalmente confusos deixam de perceber o que está em jogo. É a combinação perfeita: força e convencimento, enquanto eles fazem o serviço sujo, a maioria brinca de Madre Teresa de Calcutá. Impressionado?
Esse seu anseio por ajudar, acreditar num possível mundo novo, é realmente um sentimento nobre, acredito nele, mas a visão que sustento é de que essas práticas muitas vezes são essencialmente cosméticas.
O capitalismo fagocitou o seus mais sinceros votos de mudanças, talvez seria o que Gramsci chamou de “revolução passiva”, um processo pelo qual se muda a forma de dominação - ao lado da força econômica e política, há uma, articulada, força hegemônica.
Hoje percebemos o fenômeno wiki, um sucesso que de tão estrondoso passou a atuar em muitas frentes. O pano de fundo está nos valores básicos de justiça social, a intenção dar voz a todos aqueles que até então foram excluídos.
Temos algumas experiências como wikimedia ou, a mais bem sucedida, oh my news, ótimos exemplos da colaboração, que quebram o paradigma midiático e deixam claro que não há barreiras para wikiworld. Eles alcançam um terreno dominado, até então, por tradicionais famílias ou por celébres magnatas.
Lênin, em um dos seus textos (Para onde vai?), compara o jornal aos andaimes de uma construção uma vez que “facilitam as relações entre os diferentes pedreiros, ajudam-lhes a distribuírem as tarefas e a observar os resultados gerais alcançados pelo trabalho”.
Que dominar os meios de comunicação é o primeiro passo para uma reestruturação profunda, não há dúvidas, mas imagina se quem dominasse esta ferramenta fosse eu, você, qualquer um, em qualquer canto do mundo, perfeito! A solução estaria na conectividade possibilitada pela Internet, habitat do wiki.
Dados publicados pelo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD em 2005, que pesquisou 408 mil pessoas e 142,5 mil unidades domiciliares, apontaram a existência de 32,1 milhões de usuários de Internet no Brasil em 2005 (21% da população de 10 anos ou mais de idade).
Quanto maior a escolaridade, maior o acesso ao computador: 58,9% dos "informatizados" e 46,8% das pessoas com internet têm mais de 12 anos de estudo. O perfil dos "informatizados" é o seguinte: morador de uma grande cidade, idade entre 40 e 50 anos e renda superior à média da população (R$ 1.677,00).
Realmente acreditar que são todos que teriam voz pelo fenômeno wiki e seus jornais colaborativos, blogs e etc, em um país que conta com milhões de desempregados, aonde a maior parte das pessoas vai para a informalidade, ganhar rendimentos mínimos, somente podem ser duas coisas: ingenuidade ou completa falta de sensatez.
Pluralidade de vozes? Sim, teremos tipos muito diferentes de um público só, o da classe dominante.

5 comentários:

Alberto disse...

ow, adicionei seu blog nos links do meu
bjos

Gabriel Ruiz disse...

Eu gostei bastante desse texto Juba-mor.
Chegaram finalmente esses dias em que posso ler textos seus cara! (lembra que eu ficava cobrando?)

Concordo com o que vc diz sobre a pluralidade de vozes (o da classe dominante), ainda assim prefiro pensar futuramente (e positivamente!). Daqui uns 10 anos o acesso terá se expandido. Não sei se classes subalternas terão acesso muito maior do que hoje.
Mas de todo jeito enxergo o "colaborativismo" não como uma solução, mas como um outro meio, umsa saída, algo a mais. Só isso, sem complicar.
valeu Ju.
Se quiser me enviar um "release" ou algum escrito sobre o Falando em política, coloco lá no blogue, tipo o Raiz Social!
O abraço.

Gabriel Ruiz disse...

é o Gabis Ju! Esqueci.

O Esporte É disse...

São os dilemas da nossa sociedade da informação, ou da desinformação.

Talvez hj tenhamos mais clarezas dos fossos que existem, apesar de muitos tentarem os esconder.

Esse é nosso mundo cão.

Que sejam louvadas as iniciativas realmente bem intecionadas...

Mateus do Amaral disse...

Jubão, por que vc não continua a escrever neste blog? Está escrevendo em outro lugar? Um beijo.